quinta-feira, 17 de julho de 2014

Carta Aberta em Defesa da Ciência em Portugal

A Associação de Bolseiros de Investigação Científica (ABIC) apresentou hoje a “Carta Aberta em Defesa da Ciência em Portugal”, contra a precariedade dos investigadores e pelo investimento na ciência, já subscrita por personalidades como Sobrinho Simões ou Carlos Fiolhais.



A carta aberta está desde hoje aberta à subscrição de toda a comunidade científica na internet, através do endereço http://cartaabertaciencia.wordpress.com/about/, e insere-se numa campanha em que a ABIC pretende recolher “contributos para as questões particulares que se colocam à ciência”, com o objetivo de influenciar a política delineada antes da discussão do Orçamento do Estado para 2015.

No final da campanha a carta será entregue ao Ministério da Educação e Ciência.

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O atual momento nacional e europeu, caraterizado por graves problemas económicos e sociais, tem colocado, além de dificuldades, desafios a todos os setores da nossa sociedade. A ciência não é exceção. Apesar da sua importância fulcral no desenvolvimento humano e social, assiste-se a um défice de estratégia e a um crescente desinvestimento no Sistema Científico e Tecnológico Nacional (SCTN), traduzido no subfinanciamento das Instituições de Investigação e Desenvolvimento (I&D) e na degradação das condições de trabalho daqueles que produzem ciência. O papel fundamental da ciência no desenvolvimento económico, social e cultural do país, e na resolução dos seus atuais problemas, fica assim gravemente comprometido. Vimos, por isso, apelar a um sentido de planeamento, estratégia e financiamento para a ciência em Portugal que cumpra aquilo que são as necessidades nacionais nesta conjuntura conturbada.

O momento presente torna ainda mais premente o papel das universidades na qualificação dos cidadãos para o desenvolvimento económico e social de Portugal. Não podemos de todo aceitar que às universidades seja não só cortada a capacidade de contribuir para a formação e desenvolvimento científico, mas também lhes seja limitada a elaboração de pensamento crítico. Também as instituições de I&D não devem ficar reféns de uma orientação que privilegia o corte generalizado no seu financiamento, conduzido a partir do paradigma da produção científica em massa e da produção de indicadores de impacto. Por sua vez, o desenvolvimento da ciência é indissociável da promoção da mudança e da democratização do conhecimento. Os constrangimentos financeiros ao funcionamento das universidades, instituições científicas e trabalhadores científicos colocam sérios obstáculos ao desenvolvimento pleno destas funções.

O atual modelo económico de baixo investimento na ciência e nos seus recursos humanos condena irremediavelmente a renovação do SCTN com novas gerações bem como a perspetiva de as mesmas integrarem de forma estável os quadros do SCTN. Esta situação foi agravada pelos cortes no número de bolsas de doutoramento e pós-doutoramento atribuídas pela FCT. Tal traduz-se numa ameaça grave ao património de conhecimento científico existente em Portugal. Para as novas gerações, esta situação resultará numa eventual acomodação às lógicas existentes sem a garantia de diversidade e de adaptação indispensável aos novos tempos.

O desinvestimento na investigação científica significa o desinvestimento na capacidade de encontrarmos soluções para os problemas que nos afetam diariamente, sejam estes de cariz tecnológico, ambiental, social ou político. O investimento na ciência é, portanto, fulcral no relançamento de uma economia e sociedade baseadas no conhecimento e que colocam os cidadãos no centro das problemáticas atuais.

No contexto presente, ganha relevo a importância da aposta num modelo de desenvolvimento economicamente sustentável, que passa inevitavelmente pelo reforço do SCTN, como preconizado na Estratégia Europa 2020. O desinvestimento em infraestruturas do SCTN e nos centros de I&D coloca em causa a capacidade de potenciar a internacionalização das unidades de I&D. Adicionalmente, é crucial reconhecer a importância da qualificação e estabilização dos recursos humanos na investigação científica e dignificar as suas condições de trabalho, tal como é preconizado pela Carta Europeia do Investigador. Neste sentido, é imprescindível melhorar as condições laborais e sociais daqueles que fazem ciência. Cumpre, por isso, que todos os investigadores, qualquer que seja o seu grau ou posição, sejam reconhecidos efetivamente como trabalhadores e que lhes seja garantida liberdade de ação e discussão, pelo que defendemos uma outra política para a ciência.



Fonte: http://cartaabertaciencia.wordpress.com/about/

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